Os Insetos da Horta
Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e Mobiliário - CFPIMM (Paredes)
Desafio: "Os Insetos da Horta"
Registo Fotográfico:
Breve explicação, para cada espécie, das vantagens/implicações da presença de cada espécie na horta:
Insetos Benéficos/Auxiliares:
Espécie 1:
Abelha (Apis melífera)
As abelhas são insetos voadores. Uma das espécies mais importantes do mundo. É a partir delas que sobrevivemos, pois têm um importante papel na polinização. Há mais de 25000 espécies divididas em sete famílias biológicas, que se distribuem em todos os continentes, com exceção da Antártida.
Há abelhas de vários tamanhos. Existem desde minúsculas espécies sem ferrão, com menos de 2 milímetros, até uma espécie conhecida como abelha cortadeira, que pode atingir 39 milímetros.
São insetos que vivem socialmente em colmeias e alimentam-se de néctar e pólen que lhes garantem energia e proteínas com nutrientes, respetivamente. Produzem mel, cera, geleia real e própolis.
Vantagens
A sua principal função (ou da qual mais se fala) é a da polinização, processo do qual grande parte das plantas depende para se conseguir reproduzir, em que o papel das abelhas é crucial, pois transportam o pólen entre as flores masculinas e femininas.
Descobriu-se que 2% das abelhas do planeta são responsáveis pela polinização de 80% das culturas no mundo.
O desaparecimento das abelhas seria uma catástrofe quer para o Homem, afetando a produção de alimentos consumidos por toda a população mundial, mas também para os animais, pois são as abelhas que polinizam as plantas de que os animais se alimentam, como por exemplo a alfafa. Sem alfafa não haveria alimento para animais herbívoros, os quais, por sua vez, deixariam de alimentar os animais carnívoros.
Ou seja, toda a cadeia alimentar seria prejudicada.
A existência de abelhas num jardim ou horta é um excelente sinal. As abelhas são sensíveis às alterações climáticas e a presença de uma colmeia duradoura significa que, por resistirem bem às intempéries, as plantas também possuem um habitat favorável.
As alterações climáticas, a poluição, a utilização de químicos nas culturas, as culturas geneticamente modificadas, a monocultura, doenças e a introdução de outras espécies (como as vespas asiáticas que são predadoras das abelhas comuns), são fatores que contribuem para a eliminação de abelhas, o que pode ter um impacto muito preocupante, como acima foi referido.
Formas de as atrair e manter
Em primeiro lugar é importante mencionar que contribuir para um meio ambiente saudável e sustentável é uma das formas de preservação das abelhas.
Todas as ações que pudermos fazer para evitar/diminuir a poluição, diminuir o aquecimento global, evitar o consumo de alimentos provenientes de culturas em que se utilizam químicos, bem como não os utilizar nas horas caseiras são de extrema importância para a conservação das abelhas e o aumento das suas populações.
Outra atitude importante é o consumo de mel de produtores locais e conscientes, que utilizem métodos responsáveis para manter o equilíbrio das colmeias, produtores que tenham as colmeias junto a culturas biológicas, com parcerias com agricultores que estimulem a biodiversidade e floração em épocas distintas, pois assim é garantido o alimento natural às abelhas durante todo o ano.
Para atrair as abelhas devemos procurar ter nos jardins uma diversidade de plantas que as atraiam, como por exemplo: manjerico, funcho, malva, manjerona, orégãos, tomilho, alecrim, hortelã, margaridas, girassóis, papoilas, ou seja: muitas flores.
Por curiosidade, outra atitude que pode ajudar a atrair e manter as abelhas é colocar recipientes com água próximos de vasos, em jardins ou hortas. Isto porque as abelhas também precisam de água. Deve é ter-se o cuidado de colocar algumas pedras no fundo dos recipientes para que a água não fique demasiado profunda, e com isso as abelhas afogarem-se.
As abelhas são tão importantes que algumas apicultoras chegam a alugar as suas criações a agricultores, para que polinizem as suas culturas.
Espécie 2:
Joaninha (Coccinellidae)
Joaninha é o nome popular que se dá aos insetos coleópteros da família Coccinellidae.
Normalmente possuem o corpo redondo e colorido e medem, em média, entre 1 e 10 milímetros de comprimento. São várias as espécies e, por isso, apresentam diversas cores como vermelha, amarela ou alaranjada, com manchas pretas.
As joaninhas colocam geralmente os ovos em locais onde existem pulgões, que servirão de alimento tanto para as larvas como para os insetos adultos.
Por curiosidade, a joaninha é um inseto que hiberna e pode ser visto logo no início da primavera.
Em Portugal, as joaninhas distribuem-se por todo o território nacional.
Algumas espécies de joaninhas soltam, por meio glândulas que se localizam nas pernas, um líquido amarelo com cheiro desagradável que serve como defesa contra predadores.
Vantagens
As joaninhas têm um importante papel regulador do ecossistema porque a maioria das joaninhas são predadores que se alimentam de ovos e larvas e até de outros insetos, como os pulgões.
Uma única joaninha pode comer 50 pulgões por dia. E, por isso, são insetos essenciais nas hortas biológicas, pois fazem o controlo de forma natural, proporcionando um equilíbrio bioecológico.
Formas de as atrair e manter
Uma das formas de atrair joaninhas é plantar endro, gerânios, funcho, coreópsis, angélica, cosmos, tanaceto, cominho, dente-de-leão, coentro, mil-folhas e cenoura.
As urtigas normalmente alojam afídios logo no início da primavera, que servem de alimento para as joaninhas.
Evitar produtos químicos e investir na biodiversidade na horta e jardim.
Espécie 3:
Minhocas (Lumbricina)
Um dos principais fatores de sucesso de uma boa horta, é a existência de minhocas porque cavam túneis e buracos que, para além de arejar o solo para que as plantas “respirem” melhor, faz com que a água da chuva e irrigação escoe.
Para além disso, as minhocas ao despejarem as suas fezes no solo, colaboram na produção do húmus, matéria orgânica que inclui fezes e decomposição de animais e restos orgânicos de plantas. O húmus é essencial para o enriquecimento e fortalecimento do solo.
Insetos Prejudiciais:
Espécie 1:
Pulgões (Aphidoidea)
Os pulgões são pequenos insetos sugadores (com apenas alguns milímetros na fase adulta) de multiplicação muito rápida, com coloração variada. Existem muitas espécies de pulgões. Embora haja uma grande variedade de características morfológicas entre as várias espécies, eles caracterizam-se pelo tamanho diminuto, corpo macio, geralmente de formato ovoide.
Danos
Os pulgões atacam brotos novos na parte inferior das folhas e nos caules, sugando os nutrientes das plantas. Isto pode gerar deformações e fazê-las murchar. Os pulgões também produzem uma secreção açucarada e pegajosa (subproduto da digestão) que faz com que as folhas e os frutos fiquem pegajosos, deixando-os mais suscetíveis a outras pragas.
Os pulgões podem ainda eliminar substâncias tóxicas que levam à deformação das folhas.
A existência destes insetos pode ser sinal de uma má adubação e, por isso, é preciso evitar adubo fresco (não curtido) e adubação excessivamente azotada.
Quando o solo é pobre em matéria orgânica observa-se também uma maior infestação de pulgões.
Formas de os combater
Promover a presença de joaninhas na horta dado que são os predadores naturais dos pulgões, com a vantagem que comem os seus ovos.
Pode-se também plantar cenouras, pois as suas flores atraem um tipo de mosca que se alimenta de pulgões.
É também possível eliminar os pulgões, lavando as plantas com um jato de água.
Para os eliminar, podem também ser utilizados alguns produtos como:
1) Infusões: de cavalinha, alho, cebola, camomila, arruda e coentro podem ser eficazes, devendo apenas as plantas ser pulverizadas com estas infusões em dias de sol e secos.
2) Outras ervas: arruda ou coentro. Cozinhar 10 folhas num litro de água. Depois de frio, côa-se e pulveriza-se sobre as plantas infestadas.
3) Urtiga: esmagar e aplicar sobre as plantas infestadas.
4) Sabão neutro: misturar 1 colher (de chá) de sabão neutro com um litro de água. Pulverizar sobre as plantas.
5) Plantas repelentes: plantar lavanda, erva-cidreira, alecrim, hortelã à volta das outras plantas.
6) etc.
Espécie 2:
Ácaros (Tetranychus ludeni)
Existem vários tipos de ácaros e o mais comum é o vermelho, que tem como alvo principal as flores. Atacam os brotos, as folhas e as pétalas. Atuam principalmente em locais secos e quentes.
Os ácaros causam danos a várias espécies de plantas.
Danos:
O ataque tem início geralmente nas folhas mais velhas para depois se generalizar por toda a planta, inclusive nas folhas. As folhas atacadas apresentam, no início, pequenas manchas avermelhadas entre as nervuras das folhas, as quais coalescem, atacando toda a folha que, posteriormente, seca e cai.
Formas de os combater
Realizar amostragens com intervalos de 5 - 7 dias. O nível de controlo sugerido para esta espécie é 40% de plantas infestadas. No seu controlo, são indicados produtos sistémicos específicos que agem por contato. Usar produtos registrados para as culturas.
Espécie 3:
Lagarta (Lepdoptera)
As lagartas são a primeira fase (larval) dos insetos da ordem das borboletas e mariposas.
As lagartas alimentam-se com voracidade, normalmente de folhas e, por isso, podem constituir uma praga nas hortas e jardins. Algumas espécies desenvolvem-se dentro de frutos e outras ainda, dentro da pele de um animal vivo. Algumas são venenosas.
Há ainda, um tipo de lagarta, conhecida como “lagarta rosca”, que normalmente corta as plantas pelo caule, quase ao nível do solo.
Convém mencionar que nem todas as lagartas são nocivas. Como por exemplo, o bicho-da-seda.
Danos
São muitas as espécies de lagartas nocivas para as hortas. Por isso, usaremos para exemplificar, a lagarta da couve que é um inseto muito devastador das hortas.
A lagarta da couve come as couves (que lhe dá o nome popular) e também os brócolos e as rúculas.
Como é muito faminta, a lagarta da couve costuma devorar estas hortaliças – das folhas ao talo, destruindo toda a horta. Uma das formas de saber se é a lagarta da couve que está a causar a devastação, basta procurar uma borboleta de cor amarelada (muito pálida, quase verde ou branca), pois são as fases de desenvolvimento deste inseto.
Formas de as combater
1) Uma das formas de combater é encontrar os ovos, pois pode ser mais fácil retirá-los das folhas do que recolher as larvas.
2) Caso se queira manter algumas lagartas na horta (para se transformarem em borboletas, úteis na polinização), o ideal é plantar em maior quantidade ou plantar nabiças, que dirige as lagartas para as nabiças, pois são hortaliças apreciadas pelas lagartas, poupando assim as couves e os brócolos.
3) Pulverizar com chás repelentes com sumo de cebola, chá ou tintura alcoólica de alecrim, chá de fumo de corda com alho, pimenta com solução de sabão. Pulverizar a cada 15 dias.
4) Infestação na fase larval: catar as larvas.
5) Preservar aranhas, pássaros, répteis, sapos e mamíferos, etc. que sejam predadores das lagartas.
6) etc.
Memória descritiva:
Foi lançado o desafio “Os insetos da horta” aos formandos do CFPIMM através da Plataforma GoogleClassroom, dado o confinamento a que a pandemia COVID-19 os/nos obrigou.
De cariz voluntário, registou-se a participação de 55 formandos, de um universo de 151 formandos. Considera-se que houve uma grande adesão dos formandos ao desafio “Os Insetos da Horta”.
Pretendia-se que os formandos compreendessem a dinâmica dos seres vivos num ecossistema:
“Todos os seres vivos que integram um ecossistema funcionam como um só organismo. Uma subtil e complexa rede de ligações relaciona-os e, por mecanismos naturais de regulação, o ecossistema procura e alcança constantemente o equilíbrio que assegura a sobrevivência de cada um deles” (BUENO e ARNAU, 2017).
Uma horta saudável e produtiva não significa, necessariamente, uma horta livre de qualquer tipo de vida animal ou insetos. Pelo contrário, a presença de determinados insetos na horta, dá-nos a garantia de saúde e vitalidade, assim como nos ajuda a prevenir e a combater algumas pragas e doenças.
Os formandos entregaram trabalhos de excelente qualidade, elaborados com recurso essencialmente a pesquisas na internet, mas também a livros.
Para fazer as ilustrações, os formandos utilizaram como base as diversas fotografias e desenhos que encontraram nas pesquisas. Os formandos referem que, apesar das dificuldades para o desenho livre, gostaram de tentar e, de uma maneira geral, ficaram surpreendentemente satisfeitos com os desenhos que fizeram.
Houve formandos que recorreram às suas próprias hortas para verificar in loco os insetos pesquisados.
Os formandos referem que o desafio foi muito importante pois puderam aprender quais os cuidados a ter numa horta biológica e, especificamente, em relação à importância da biodiversidade para a manutenção de ecossistemas que garantem a sobrevivência de muitas plantas.
Compreendem agora o quanto os insetos são necessários para que o ecossistema seja mantido e para a sobrevivência de muitas plantas.
Aprenderam também que os insetos que são considerados pragas fazem parte desse ecossistema de alguma forma, sendo, por exemplo, alimento para os insetos predadores ou, como no caso das lagartas, transformando-se em borboletas que também exercem função polinizadora, motivo pelo qual não devem ser eliminados com químicos, pois podem interferir no ecossistema e eliminar também os insetos benéficos, como é o caso, por exemplo, das abelhas.
Os formandos agradeceram ainda a oportunidade de fazer este estudo pois permitiu-lhes por os conhecimentos adquiridos em prática nas suas próprias casas.
Houve inclusivamente quem partilhasse essas experiências, e passa-se a transcrever um exemplo disso: “Os meus limoeiros estão com as folhas escuras e muitos frutos perdem-se antes de estarem prontos para consumo, apodrecendo e caindo. Analisei a planta e identifiquei uma infestação de cochonilhas e agora sinto-me motivada a tentar os tratamentos naturais que aprendi com este trabalho.”